sexta-feira, 31 de maio de 2013

Por Amarte Asi



Saudades

Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

                     Florbela Espanca

domingo, 19 de maio de 2013


Tu és...

Meu amor
Junto do rio, és o mar.
Junto da prata, és ouro.
Junto do demónio, és anjo.
Junto do ódio, és o amor.
Junto da tristeza, és a alegria.
Junto da lágrima, és o sorriso.
Junto do débil, és forte.
Junto da repressão, és a libertação.

RITA  GOMES

Diamonds


terça-feira, 14 de maio de 2013


Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente
Erros meus, má Fortuna, Amor ardente 
Em minha perdição se conjuraram; 
Os erros e a Fortuna sobejaram, 
Que para mim bastava Amor somente. 

Tudo passei; mas tenho tão presente 
A grande dor das cousas que passaram, 
Que já as frequências suas me ensinaram 
A desejos deixar de ser contente. 

Errei todo o discurso de meus anos; 
Dei causa a que a Fortuna castigasse 
As minhas mal fundadas esperanças. 

De Amor não vi senão breves enganos. 
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse 
Este meu duro Génio de vinganças! 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

sexta-feira, 10 de maio de 2013



Lagrimas ocultas





Se me ponho a cismar em outras eras

Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...





E a minha triste boca dolorida

Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!





E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...





E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


FLOBELA ESPANCA

Passos Escuros


quinta-feira, 9 de maio de 2013


Sobre Nós

 

Dois E O 


Resto Do 


Mundo


Seu olhar me acompanha
Do outro lado da rua
Um sorriso, discreto
E hoje a noite é minha...
Seu andar folgado me chama
Da morte ela morre de medo
E já disse que me ama
Mas tem que ser em segredo...
Sobre nós dois
Ninguém vai saber de tudo
Parece uma partida
Contra o resto do mundo...
O resto do mundo...
O resto do mundo...
Ela vibra como criança
Vestida, prá mim, está nua
Dormindo é quase uma santa
Nasceu sorrindo prá lua...
Seu andar folgado me chama
Da morte ela morre de medo
E já disse que me ama
Mas tem que ser em segredo...
Sobre nós dois
Ninguém vai saber de tudo
Parece uma partida
Contra o resto do mundo...
O resto do mundo
Uh! uh! uh!
O resto do mundo...
Eu até sonhei com isso
As coisas mais loucas
Com ela eu arrisco
Com ela eu arrisco...
Sobre nós dois
Uh! uh! uh!
Sobre nós dois
E o resto do mundo...

Frejat

1 Minuto


domingo, 5 de maio de 2013


Coisa Amar
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre


Pra te Fazer Lembrar