sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Acaso
No acaso da rua o acaso da rapariga loira. 
Mas não, não é aquela. 

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro. 
Perco-me subitamente da visão imediata, 
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua, 
E a outra rapariga passa. 

Que grande vantagem o recordar intransigentemente! 
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga, 
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta. 

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso! 
Ao menos escrevem-se versos. 
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar, 
Se calhar, ou até sem calhar, 
Maravilha das celebridades! 

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos... 
Mas isto era a respeito de uma rapariga, 
De uma rapariga loira, 
Mas qual delas? 
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade, 
Numa outra espécie de rua; 
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade 
Numa outra espécie de rua; 
Por que todas as recordações são a mesma recordação, 
Tudo que foi é a mesma morte, 
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã? 

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional. 
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas? 
Pode ser... A rapariga loira? 
É a mesma afinal... 
Tudo é o mesmo afinal ... 

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal. 

Álvaro de Campos

Dónde Está El Amor


domingo, 23 de dezembro de 2012

O circo é um mundo de ilusões onde tudo é perfeito e mágico. Pena que na vida não seja assim, porque era tão bom viver sempre na magia. Romeu Costa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012



Os dias passam
As horas correm
As certezas morrem,
E os olhos choram
Choram por não saber,
Saber se um dia me amaste,
E eu não paro de sofrer
Com a ilusão que criaste
Mataste o artista
Sem sequer dar uma pista
Do que no teu coração morrera
Esse amor que alguma vez batera.
Sei que não errei
E triste então fiquei
Pois no fim disto tudo
Descobri que em ti me enganei
E agora dizem que fui sortudo
Porque contigo acabei.
E eu respondo, não!
Não consigo apagar
Esta incessante paixão
Deixar de te amar
Sentir que acabou,
Não, só sei que o meu coração parou.

                                                  Escrito por: Aurélio de Sousa


Lutar pelo que é meu